Chegamos na delegacia.
Não estava esperando tantos policiais nesse vilarejo no meio do nada no deserto, mas me surpreendi. Nos direcionaram para uma sala de interrogação e esperamos o delegado. Minha equipe ficou comigo o tempo todo como testemunha e intérprete.
Comecei a ditar meu depoimento em inglês pra meu intérprete, ele traduzia pra árabe e o delegado escrevia. O delegado fazia uma pergunta em árabe, meu intérprete traduzia pra inglês e eu respondia. E assim por diante. Demoramos horas pra terminar a história. Eu ainda em estado de choque, tive que contar a história umas 10 vezes em menos de 24 horas.
Anotou a minha parte da história e a das testemunhas. Registrou nossos nomes, tirou cópia das nossas identidades e assinei com impressão digital.
O acusado foi chamado a essa sala mas não admitiu nada. Disse que nunca tinha me visto antes e não sabia de nada. Os funcionários da cozinha deram um depoimento que ele estava dormindo naquele horário e não tinha saído do quarto. No depoimento eles escreveram que todos os cozinheiros entraram no quarto juntos depois de preparar a última leva de pães na cozinha.
Eu pensei como ia ser difícil continuar, a minha palavra contra a deles. Aí eu me pergunto, se não era esse homem, outro alguém entrou no meu quarto e me deixou com hematomas. Não é melhor investigar?
Depois de muitas e muitas horas na delegacia, fomos enviados a uma clínica pra fazer o exame corpo de delito. Fizeram exame de sangue, amostras de debaixo da unha, amostras dos arranhões e um relatório detalhando meus ferimentos.
Que azar ter o péssimo hábito de roer unhas. Se eu soubesse que ter unhas grandes e arranhar o suspeito poderia ser um grande aliado na resolução de um crime...
Da clínica fomos até a promotoria, muitos representantes das duas empresas já estavam presentes lá, do acusado e da minha. Mais uma vez tivemos que dar nossos depoimentos, desta vez tive uma intérprete mulher. Ela leu tudo o que estava escrito em árabe pra mim e tive que responder perguntas bem específicas e detalhadas sobre o episódio (qual a mão, direita ou esquerda, que ele usou pra abrir a porta do quarto, pra te tocar e assim vai).
Eu entendo perfeitamente porque alguém pararia por aqui ou até antes dessa dor de cabeça.
E vontade de explodir quando perguntam coisas como: se eu tinha um relacionamento com ele, se eu tinha bebido, se eu sou uma moça de "família" e se eu me visto "decentemente". Dizem que essas perguntas fazem parte de qualquer investigação, mas eu acho que é uma tentativa de colocar a culpa na vítima.
Pois é claro que se eu tivesse um relacionamento com ele, tivesse bebido e usando shortinho, nem precisa de julgamento, não é?
Agora é só esperar a primeira audiência.
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